terça-feira, 22 de janeiro de 2008

El Legante

Após longo tempo de hibernação, volto para agraciá-los com o texto a seguir, assinado por Alex Luthor:

PARIS - Esta crônica pretende ser objectiva, crítica e precisa. Objectiva assim como minhas impressões o foram no Brasil. Pretendo falar, pois, das praias públicas brasileiras.

Eu acabara, ainda na França, de embarcar no TGV (1) quando um jovem casal fez o mesmo. Tão logo partiu o trem os dois copiosamente despencaram no chão: eram brasileiros recém-chegados. Vários passageiros preocuparam-se com o tombo do casal, mas, para a surpresa de todos, ainda no chão os dois começaram a rir. Riam de si mesmos, faziam o que todos estavam com vontade de fazer, mas que toda a élégance francesa os impedia. Nesse momento eu senti saudade do Brasil, da espontaneidade, da alegria e da habilidade dos brasileiros de se esconderem de situações ridículas. Decidi deixar o Jour de l'na (2) francês e passar o ano novo no Brasil.

Encontrei-me com meus velhos amigos e combinamos de passar o Ano Novo na praia. “O Rio fica ainda mais maravilhoso sob a luz dos fogos.” Das duas, uma: ou o calor do Rio afetou o meu bom gosto francês, ou os brasileiros precisam rever seus padrões de limpeza. Nunca vi situação mais, como diria meu sábio amigo Sr. Tablóide, apanacada.

Constatei que a praia de Ipanema é freqüentada por algumas pessoas – pequena porcentagem, é verdade – merecedoras de tanta beleza natural, mas assombra-me como tais pessoas conseguem conviver com indivíduos de certa estirpe. Pauvre de moi! (3) Incapazes de conjugar um verbo correctamente, ridiculamente vestidos, sem a menor postura moral, sem educação cívica, conseguiram ocultar e depredar a beleza da paisagem.

A incapacidade dos ébrios de pensar racionalmente impossibilitou que meus amigos me explicassem o que eu via. Mas eu penso por eles, assim como deveria fazer a diminuta e oprimida parcela social carioca com cultura o suficiente para decidir o que é melhor para o Brasil. Deveriam privatizar as praias cariocas, e brasileiras. Ao menos as mais limpinhas.

Naturalmente meus nobres leitores não se chocam com minha idéia, pois já devem estar acostumados com essa sábia realidade: assim como nos países desenvolvidos, os brasileiros pagam para usufruir o direito público de ir e vir, pagam pelo direito à educação – o que é razoável pois evita desperdícios com incapacitados, geralmente concentrados nas classes inferiores –, pagam para se tratar das enfermidades. Enfim, os merecedores de espaços democráticos limpos e bem freqüentados certamente reconheceriam a importância da privatização das praias.

A privatização arca com a incapacidade da gestão pública de sustentar as pressões populares que reivindicam objectos diversos os mais absurdos, na grande parte das vezes. Ao consolidar o critério financeiro como crivo de seleção, com êxito evita-se abusos sociais como os que testemunhei na praia de Ipanema. Coincidência ou não, os freqüentadores dos espaços privatizados apresentam nível cultural que faz jus às belezas das praias brasileiras e, com consciência, ocupam espaços sem retirá-lo de seu frágil equilíbrio.

Notas do Sr. Tablóide:
(1) TGV: trem de alta velocidade francês;
(2)
Jour de l'na: Ano Novo

(3) Pauvre de moi!: Pobre de mim!

*Alex Luthor é correspondente de Sr. Tablóde na França. Nasceu na França e veio ainda criança para o Brasil. Seu retorno à França sempre rendeu emocionantes memórias de sua infância no Brasil. Escreveu para importantes jornais franceses sobre o Brasil e, mais do que meras opiniões, seus trabalhos são fidedignos estudos sobre o desenvolvimento sócio-cultural brasileiro.

21 comentários:

Anônimo disse...

Caro Sr Tablóide, as vezes você fica um tempo sem postar mas quando retorna nos brinca com palavras de sabedoria. Na verdade, essa idéia é de seu amigo, mas veleu mesmo assim.

Isso era uma coisa que eu já tinha pensado, mas não havia conseguido concretizar tão claramente. As vezes cansa ser brasileiro... mas falta mesmo iniciativa e vontade de resolver os problemas. Fica aí registrado uma idéia.

E sue amigo, Alex Luthor, ele tem blog?? Se tiver, avise-nos!! Ele deve ter mais idéias a compartilhar!

Um abraço!!

Everaldo Ygor disse...

Olá...
Por aqui pagamos muito e não temos direito algum...
poluimos muito e não temos interesse em mudar...
Esse é o Brasil...
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/

Descharth disse...

Disse grandes verdades, mas se tem culpas o governo,mais culpa tem o povo Brasileiro. Somos, não acostumados , mas sim seguidores dessa torpe forma de existir. Moral e civismo vem de berço e tradição.

Anônimo disse...

To passando pelo comprometimento com a comu...

=]]

mas qdo o blog eh bom, eu digo...

Adoooorei!


beijO

Julio disse...

Sim, pagamos muitos impostos e so tomamos no c*

E porque isso? porque gostamos. O povo tem culpa nisso.

Stephany Belleza disse...

Oia que chic frança! *.*

Mto legal a crônica, adorei!

Metal disse...

... Po bem massa... mostra um ponto tradicional do que acontece aki!!! Bem bacana!!

Victória Freitas disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

pagam pelo direito à educação – o que é razoável pois evita desperdícios com incapacitados, geralmente concentrados nas classes inferiores –
isso é preconceituoso da parte desse Luthor aí
Não existem incapacitados
só pessoas pobres e outra preguiçosas
e se existem incapapcitados o estado tem obrigação de arcar com a incapacidade deles

Anônimo disse...

O blog é otimo vc escreve muito bem
e o texto é interessante
só não gostei daquela parte

Celeste Garcia disse...

Esse tema é bem controverso. Eu, sinceramente, não acho que a praia tenha de ser privatizada. Como todos já estão ‘carecas’ de saber, a praia é um bem público e é NOSSO dever cuidar dela.
Tudo bem que muitas, muitíssimas pessoas estão nem aí: emporcalham a areia, o mar, as calçadas... é revoltante!
Mas também acho que privatizar uma das poucas ‘fontes de entretenimento’ do povo é segregação. Enquanto uns desfrutam de uma praia afrodisíaca, outros enfrentam um ‘Piscinão de Ramos da Vida’...
Se tal privatização existisse, nem eu ia gastar meu 'rico dinheirinho' só por um privilégio desses. Também não gostaria de ver formarem mais lobbies em tudo quanto é litoral; já basta os que temos hoje.
Isso é aumentar ainda mais a disparidade do Brasil - o que já não é pouca.
A solução está na educação, conscientizar as pessoas. E admito que parte desse problema está em nós: sempre queremos nos isolar das mazelas em vez de levantar questões e correr em busca duma solução. É complicado, complicadíssimo.

young vapire luke lestat disse...

Sou um Italo-germanico que cresceu no Rio de Janeiro e retornou para Alemanha.
Tbm passei o Revellion no Rio de Janeiro / Búzios.
Quando estou matando a minha saudade do Brazil, eu não me preocupo em transformar o Brazil em modelo de organização e educação pq se o RJ adquirir ares de uma Paris fatalmente perderá se chame e não será o rio de Janeiro que amamos por sua espontaneidade.....

[]s L.Sakssida

o'Ricci disse...

apesar do calor nauseante violentar meu bronzeado albino, e, o poder parelelo ao meu bolso, o Rio de Janeiro continua... er... belo. Mas é justamente pelo conjunto. Como afirmado nos parágrafos iniciais, é do brasileiro, e não do Brasil, que se sente falta. Privatizar um cartão postal dessa forma com o pretexto de preservá-lo, seria como praticar a entomologia. Trancar uma lepidóptera das mais belas em uma caixinha de vidro para a exibição a olhos externos.

Como sempre, acaba-se vendendo o país para quem não mora nele. Vide o pan-americano que criou o inferno no lugar onde eu moro, sem trazer nenhum benefício palpável.

E o primeiro que levantar a hipótese de essa ser uma crítica reaciónaria merece uma machadinha no meio do crânio.

Ainda assim, parabenizo pela escrita impecável e pela escolha de um tema interessante.

BLOGDOED disse...

Post bacana, merece uma lida mais atenta para um comentário legal.

Farei daqui a pouco!

BLOGDOED disse...

"Coincidência ou não, os freqüentadores dos espaços privatizados apresentam nível cultural que faz jus às belezas das praias brasileiras e, com consciência, ocupam espaços sem retirá-lo de seu frágil equilíbrio."

espero que vc tenha sido sarcástico, ou serei obrigado a dizer que vc é preconceituoso pra caralho, meu! Se assim for, na boa, volta pra França vc não merece nosso País

Anônimo disse...

Sinceramente, se todos pensassem como o autor desse texto, seríamos muito pior.

Como prova que incapacitados estão concentrados nas classes inferiores? Ao contrário, são bem mais sábios os que com 300 reais conseguem sobreviver, já que viver com dinheiro é fácil, assim como passear na Daslu (pessoal chegado à uma sonegação).

Outra coisa, esse negócio de pagar por educação "é razoável" porque daí não gasta dinheiro com os incapacitados. Estranho vir de um que nasceu na França, país que se orgulha de fornecer educação de qualidade à toda população , que tem seus incapacitados também, tenho certeza.

Agora, acho que vou dar um pulo na praia que (ainda) é pública, antes que o PSDB as privatize também.


Abraços,
www.blogonews.blogspot.com

Pobre disse...

Esse pais me enoja, o pior é que nós ainda fomos capazes de reeleger o Lula depois de todos escandalos!
por isso o pais nao vai pra frente, parece que brasileiro é masoquista!

Pobre Otário

Heitor disse...

A cada dia que passa, eu tenho mais vergonha de dizer que sou brasileiro. Não vou dizer "IFELIZMENTE" brasileiro, porque eu amo esse país. Mas eu só consigo ficar cada vez mais desacrdditado quanto ao nosso futuro.

Feänor disse...

Uma pena mesmo... Mas realmente, nossas praias E nosso país são uma verdadeira sujeira...

Você encontra lixo por toda parte: lixo físico, lixo moral, lixo intelectual...

Nossas ruas são umas das mais sujas do planeta. Muitos amigos meus que viajam para outros países de terceiro mundo retornam consternados com a limpeza destes lugares, em oposição à bagunça que é nossa impoluta babilônia.

O lixo moral também é evidente: o afamado "jeitinho brasileiro" é um dos reflexos mais conhecidos desta nossa faceta... Uma imoralidade que justificamos na imoralidade alheia, em um grande ciclo de condescendência praticado por alguns que macula a imagem de um povo inteiro.

E o lixo intelectual... Basta olhar as primeiras páginas de nossos jornais e comparar sua relevância com as matérias de rodapé, e será fácil perceber a discrepância.

Uma situação lamentável... E o que é pior, que macula a imagem de todos, inclusive dos que não contribuem para esta balbúrdia.

Sobre a privatização das praias, não creio que este seja o caminho. Acho que o problema é muito mais de educação do povo do que qualquer outra coisa... É aí que devemos mexer. Educação e conscientização...

Fábio Melo disse...

Por uma feliz coincidência hoje estava assistindo american idol, e um dos jurados falou sobre essa situação de "rir de si mesmo" dos estrangeiros. Ele ficou maravilhado. "Nós não somos assim", disse ele. By the way (lembrando do post anterior a esse ^^ ), lembro de uma entrevista que aques Chirrac deu, logo antes de deixar a presidência, em que ele dizia que 50% de Paris não tinha saneamento básico. Pois é, não é só aqui que existem discrepâncias sociais...

Excelente texto/blog/tudo!

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TemPraQuemQuer <<< Entra!

february star disse...

Concordo com Alex Luthor em gênero, número, grau e sarcasmo.

Ler esse blog e constatar que tem gente que sabe escrever sempre limpa a minha alma, não canso de repetir =)

Au revoir