quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O homem dissocial

O homem é taxado como um animal essencialmente social. Isso faz, teoricamente, com que essa espécie tenda a procurar a atenção alheia a todo o momento para satisfazer suas egocêntricas necessidades. A ponte entre a necessidade de se sociabilizar e a sociabilização foi comumente chamada de "comunicação".

A comunicação pode se dar de várias formas. Desde os mais tenros tempos da humanidade até os mais contemporâneos o homem tem desenvolvidos diferentes e, aparentemente, mais eficazes formas de comunicação. Se nos primeiros anos utilizávamos gestos incompreensíveis, sinais de fumaça, desenhos arcaicos, grunhidos grotescos e, claro, o acasalamento, atualmente escrevemos, falamos e, às vezes, piscamos.

No entanto, uma observação da realidade que me cerca mostrou que essas novas e eficientes formas de comunicação não têm ganhado adeptos em todo mundo. Algumas pessoas insistem em manter seus costumes rústicos e antiquados.

Certa vez fui comer no Habib's. Acompanhado de uma amiga, aproveitei a oportunidade para batermos um papo descontraído e desenvolvermos um diálogo faceiro. Pois é, papo vai, papo vem e o tempo passa. De repente, as luzes se apagam. E acendem! E voltam a se apagar... Mas se acendem de novo! Ainda perplexos, fomos supreendidos por um dos atendentes vindo dizer: "Está na hora de fechar o restaurante". Pô, se era para ter que vir avisar de qualquer jeito, porque utilizou a apanacada forma de comunicação descrita?

A princípio, pensei em questionar o fato dele ter chamado aquele cubículo minúsculo e engordurado de restaurante. Eu chamaria, com boa vontade, de "barraquinha". No entanto, me contive e disse um mero "Passar bem".

Ok, até admito que apagar e acender as luzes repetidamente é uma prática há muito disseminada no cotidiano brasileiro. Quando sua mamãe namorava seu papai, sua vovó apagava e acendia as luzes da varanda para avisar que era hora de terminar com aquela pouca vergonha na calçada e entrar para dentro de casa, onde o selo da castidade estaria bem guardado. No entanto, não tínhamos ciência de que redes de fast food também adotavam tal prática.

Até esse momento, eu pensava que as empresas estavam comprometidas com o desenvolvimento de relações mais claras e transparentes. Contudo, percebo cada vez mais que é intrínseco ao ser humano a rara arte de complicar. Quem nunca foi ao shopping ou supermercado e foi surpreendido com uma máquina estúpida que cospe um cartão de estacionamento e fala "Seja bem-vindo à puta-que-pariu"? Falar "Bom dia" a um projeto de robô é, no mínimo, constrangedor. Geralmente eu vejo o crachá do carinha que está entregando os cartões e falo "E aí Reginaldo, beleza?". Ele fica até feliz!

Mas o que impressiona mesmo é que em 99% das vezes essas máquinas ficam sendo monitoradas por um funcionário que pega os cartões. Ora, para quê serve a máquina, então? E de quebra, não dá nem para ver o cracha do funcionário! Essas coisas que me revoltam...

O que concluo de tudo isso é que o ser humano, diante das tantas formas de comunicação já desenvolvidas, tem escolhido aquelas que envolvem o menor contato humano, não as de fato mais eficientes. Seja arcaico, como no caso de acender e apagar as luzes, ou moderno, como no caso das máquinas de estacionamento, nossa evolução (eu chamaria de involução) tem dado tristes mostras de que o homem está cada vez menos social.

8 comentários:

Ton disse...

cara cada coisa em
srrsrsrs
huahuahuua
e aguentar escrever tudo isso
srsrrs
loco
excelente blog
e boa post

Luiz disse...

Isso eh relativismo.... o social está impregnado nas relações de produção material das máquinas que vc se interrelaciona! Isso aqui eh saudades de um tempo em que nunca vivemos onde as "relações" era "mais humanas". É um falsa impressão de um tempo que nunca conheci. Ou será que vc prefere abdicar dos confortos da vida moderna (por exemplo essa internet sendo usada por vc essa noite, conversando animadamente com os colegas!)por uma sociedade menos tecnológica e mais social? A sociedade é antes de tudo um conjunto de idiotas juntos, sejam mediadas por máquinas ou sem elas, o social é so um motivo falso pra que não nos matemo. Social por social, prefiro meu intenso relacionamento com aquela bela voz do "bem vindo a puta que o pariu"...

Unknown disse...

ótimo blog, um dos melhores que já ví. Se tudo o que você escreveu estivesse escrito em inglês ninguém iria pensar que você é brasileiro. Você deve estar algumas gerações a frente da maioria.

OBS: Obrigado pelo comentário no meu humilde blog, tava precisando de uma força.

abraço....

Taísa disse...

Ótimo blog
O nome tem tudo a ver
E o post é muito bom
Parabéns

http://poemaseoutrascoisitasmais.blogspot.com/

­Redação disse...

Pra mim também isso é relatividade...hehe!

Enfim, parabéns, muito bom seu blog...muito mesmo!

Passa no meu lá depois:

http://www.odescontrole.blogspot.com/

Abraço!

blog disse...

Bem, primeiramente parabéns pelo "E aí Reginaldo, beleza?"

Depois: camarada, é muito mais cômodo não haver comunicação. Quanto maior ela é, mais as pessoas se comprometem, aproxima-se, etc. E quem quer aproximação? Opta-se pela robotização porque assim é a vida: cheia de desconfianças.
Infelizmente.

Valeu a postagem.

Bom 2008

Anônimo disse...

Comunicação é uma das coisas mais importantes da vida. Você presisa dela pra fazer amigos, voce presisa dela pra lidar com pessoas, você presisa dela pra trabalhar.

http://www.historias-de-banheiro.blogspot.com/

Jefferson Barbosa disse...

A comunicação respeitosa foi permutada pela falta de educação. É essencia do ser humano.

E em relação á barraquinha aí, eles não tinham um picles. Bando de mercenarizinho nojento.