sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A antítese do trabalho

Eu, Sr. Tablóide, estou voltando a tomar as rédeas desse blog. Após o estrondoso sucesso do último post, escrito pelo meu correspondente na França, Alex Luthor, tenho a difícil tarefa de escrever a presente coluna.

Bom, todos sabemos que nem tudo que parece verdade é verdade. Mas o ser humano tem a incrível capacidade de enganar a si mesmo. É como uma mosca tentando passar pelo vidro da janela. Ela já percebeu que não dá para passar por ali, mas continua se debatendo, como quem fosse quebrar a barreira invisível. Ou seja, é um processo de auto-enganação que o reino animal demonstra em variadas facetas.

Uma dessas facetas é em relação ao trabalho. É comum pensar que só vence na vida quem trabalha muito. Seja na escola ou na vida profissional, temos vários exemplos de pessoas que continuam se enganando achando que o trabalho árduo e pesado irá levá-las ao sucesso. No entanto, todos sabemos que isso não é verdade.

Trabalho árduo qualquer um faz. Os antigos escravos (e os atuais também!) trabalhavam feito condenados. E o que ganharam? Algumas chicotadas por algum momento de ócio. No entanto, os índios eram folgadinhos. E o que ganharam? Liberdade! Está bem que Celso Furtado está se revirando no túmulo por isso, mas convenhamos que os obedientes africanos sofreram mais que os indolentes indígenas.

Daí virá algum amigo meu dizer "Deus ajuda quem trabalha"! É mais um processo de auto-enganação querer acreditar em ditados populares apanacados. Já é tempo de saber que religião e ditados não formam uma boa combinação. Prova viva disso está no não menos apanacado ditado "a voz de Deus é a voz do povo". Ora, Amin foi aclamado pelo povo em Uganda. Não obstante, foi um ditador cruel. No Brasil, o mesmo se repetiria com Lulla Collor, que se não foi um ditador cruel, não deixou saudades aos mais sãos.

Mas você, ingênuo leitor, deve estar se perguntando: "O que nos leva ao sucesso, então?". Bom, basta olharmos ao passado. Como é de conhecimento geral, o berço do conhecimento ocidental encontra-se na cultura grega antiga. Retomando o pensamento grego, podemos identificar que o ócio era a atividade dos intelectuais e dos abastados. Refletindo com um mínimo de inteligência sobre isso, percebemos que não basta trabalhar. Trabalhar pode ser totalmente em vão, se não fizermos da maneira certa. E acreditar misticamente que o trabalho leva ao sucesso é um dos piores processos de auto-enganação, pois é uma forma honesta de se enganar, levando as pessoas a pensarem que estão se enganando por uma boa causa. O segredo do sucesso, contudo, está no ócio, em pensar antes de agir, em poupar energias para o momento oportuno e atacar a oportunidade na hora certa.

O ócio como segredo do sucesso fica claro ao sentirmos a epifania desse esclarecedor momento!

Portanto, deixem os mitos para trás e locupletem o ócio! E locupletem algumas citações de relevância a seguir:

“A verdadeira finalidade de toda a vida humana é a diversão”
G.K. Chesterton

"O trabalho deveria existir em função de viver. Não vivemos para trabalhar. Esta mudança em nossa percepção é necessária"
Matthew Fox

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

El Legante

Após longo tempo de hibernação, volto para agraciá-los com o texto a seguir, assinado por Alex Luthor:

PARIS - Esta crônica pretende ser objectiva, crítica e precisa. Objectiva assim como minhas impressões o foram no Brasil. Pretendo falar, pois, das praias públicas brasileiras.

Eu acabara, ainda na França, de embarcar no TGV (1) quando um jovem casal fez o mesmo. Tão logo partiu o trem os dois copiosamente despencaram no chão: eram brasileiros recém-chegados. Vários passageiros preocuparam-se com o tombo do casal, mas, para a surpresa de todos, ainda no chão os dois começaram a rir. Riam de si mesmos, faziam o que todos estavam com vontade de fazer, mas que toda a élégance francesa os impedia. Nesse momento eu senti saudade do Brasil, da espontaneidade, da alegria e da habilidade dos brasileiros de se esconderem de situações ridículas. Decidi deixar o Jour de l'na (2) francês e passar o ano novo no Brasil.

Encontrei-me com meus velhos amigos e combinamos de passar o Ano Novo na praia. “O Rio fica ainda mais maravilhoso sob a luz dos fogos.” Das duas, uma: ou o calor do Rio afetou o meu bom gosto francês, ou os brasileiros precisam rever seus padrões de limpeza. Nunca vi situação mais, como diria meu sábio amigo Sr. Tablóide, apanacada.

Constatei que a praia de Ipanema é freqüentada por algumas pessoas – pequena porcentagem, é verdade – merecedoras de tanta beleza natural, mas assombra-me como tais pessoas conseguem conviver com indivíduos de certa estirpe. Pauvre de moi! (3) Incapazes de conjugar um verbo correctamente, ridiculamente vestidos, sem a menor postura moral, sem educação cívica, conseguiram ocultar e depredar a beleza da paisagem.

A incapacidade dos ébrios de pensar racionalmente impossibilitou que meus amigos me explicassem o que eu via. Mas eu penso por eles, assim como deveria fazer a diminuta e oprimida parcela social carioca com cultura o suficiente para decidir o que é melhor para o Brasil. Deveriam privatizar as praias cariocas, e brasileiras. Ao menos as mais limpinhas.

Naturalmente meus nobres leitores não se chocam com minha idéia, pois já devem estar acostumados com essa sábia realidade: assim como nos países desenvolvidos, os brasileiros pagam para usufruir o direito público de ir e vir, pagam pelo direito à educação – o que é razoável pois evita desperdícios com incapacitados, geralmente concentrados nas classes inferiores –, pagam para se tratar das enfermidades. Enfim, os merecedores de espaços democráticos limpos e bem freqüentados certamente reconheceriam a importância da privatização das praias.

A privatização arca com a incapacidade da gestão pública de sustentar as pressões populares que reivindicam objectos diversos os mais absurdos, na grande parte das vezes. Ao consolidar o critério financeiro como crivo de seleção, com êxito evita-se abusos sociais como os que testemunhei na praia de Ipanema. Coincidência ou não, os freqüentadores dos espaços privatizados apresentam nível cultural que faz jus às belezas das praias brasileiras e, com consciência, ocupam espaços sem retirá-lo de seu frágil equilíbrio.

Notas do Sr. Tablóide:
(1) TGV: trem de alta velocidade francês;
(2)
Jour de l'na: Ano Novo

(3) Pauvre de moi!: Pobre de mim!

*Alex Luthor é correspondente de Sr. Tablóde na França. Nasceu na França e veio ainda criança para o Brasil. Seu retorno à França sempre rendeu emocionantes memórias de sua infância no Brasil. Escreveu para importantes jornais franceses sobre o Brasil e, mais do que meras opiniões, seus trabalhos são fidedignos estudos sobre o desenvolvimento sócio-cultural brasileiro.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ser ignorante dói?

Existe uma certa arrogância cretina que tem corrompido a sociedade nos últimos tempos. Algumas pessoas se sentem num nível intelectual inatingível e muito superior ao da "massa ignorante".

Veja o seguinte diálogo como exemplo:

- Cara, um amigo meu recomendou uma música do Led "Zeppelín". Você conhece a banda?

- Nossa velho, como você é burro! É Led "Zéppelin".

- Poxa cara, desculpa... - tentando apaziguar - E esse seu tênis da "Rebóque" novo, da hora, hein?

- "Rebóque"? Se pronuncia "Ríbuk", cara... - disse o rapaz com aquela expressão tipicamente blasé.

Eu quase fui confessar na Igreja pelos meus atentados contra a pronúncia da língua inglesa, afinal, é muito feio pronunciar errado. Só gente sem cultura fala assim. Tem que ser chique e falar a língua estrangeira corretamente em todos os seus detalhes.

Eu quase falei para o "amigão" do diálogo que é muito bonito saber inglês, mas ele errou no português ao colocar a partícula apassivadora "Se" no começo da frase. Pois é, tem gente que não sabe nem português, mas inglês tem que saber, né? É chique...

E assim fico feliz, pois percebo que o Brasil tem uma elite intelectual crescente e exigente, preocupada com os pequenos detalhes que permeiam a formação cultural de um povo.

Mas para quem, como eu, não foi tão bem favorecido financeiramente em outros idiomas e precisa parecer chique, aqui vão uns termos legais para usar na hora do aperto: em vez de “tempo”, use "time"; em vez de “enfim”, use "whatever" ou "anyway"; em vez de "puxa", use "oh, really?"; e em vez de “atualizar”, use “upgrade”. Esqueci de algum? Whatever...

E fiquem espertos com a pronúncia!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Voltando às atividades

Após longas e merecidas férias (também pudera, já estava postando aqui há 2 semanas ininterruptas, trabalhão, pô!) estou de volta às atividades.

Prometo, no mínimo, um texto novo por dia. E se eu não cumprir, nunca mais votem em mim... (essa é velha. E vocês vão votar de qualquer jeito!)

Estou à procura de assuntos da moda. Há uns 10 anos o assunto da moda era a leitura dinâmica. Você ligava em qualquer um desses canais apanacados com programas vespertinos cretinos e via propagandas do tipo "Leia 500 páginas em 5 minutos!". Quem acreditava nisso? Mas depois eu voltarei a esse detalhe.

Era um marketing agressivo, é verdade. Desde que adquirimos TV por assinatura aqui em casa eu pensei que tinha me livrado desses males da tecnologia moderna. Mas é só ligar na AXN, Universal ou até na ESPN e ver que a Polishop continua firme e forte. Mas calma aí, eu já não pago o sinal dos canais? E sou obrigado a suportar essas propagandas no meio da programação? Pois é...

Quem não se lembra do famoso Contour Pillow? Você não lembra? Ah, mas daquela cera para carros que o deixava com um incrível brilho e ainda escondia arranhados você lembra, né? Não?! Que coisa... Mas eles existiram, acredite!

Tinha ainda aquele saco para microondas que diminuía o tempo de preparo dos alimentos. Inclusive lembro que eles mostravam uma carne crua, quase congelada por dentro, e diziam "Veja como está suculenta e ao ponto". Patético.

Ah, mas daquela "Vassoura mágica" que limpava tudo vocês lembram, né? Você torcia com o próprio cabo e não deixava o chão engordurado. Uma maravilha!

E completando o rol de produtos-sem-os-quais-ninguém-sobrevive, ainda tínhamos mesas desmontáveis, limpador de pêlos de animais e livros de leitura dinâmica. Voltando a este último, éramos obrigados a presenciar cenas abobadas de disputas entre pessoas que haviam feito o curso e as que não haviam. Aliás, esses comerciais são a fonte-gênese do filme Tropa de Elite. Basicamente, o seguinte diálogo se seguia:

Silvio Santos cover: Temos aqui uma pessoa que não fez curso de leitura dinâmica e daremos os 7 livros de Harry Potter para ela ler em... Em quantos minutos você lê, Reginaldo?

Reginaldo: Em 10 minutos, senhor.

Silvio Santos cover: O quê? 10 minutos? O senhor é um fanfarrão, seu Reginaldo! O Carlos que fez o curso de leitura dinâmica lerá em 10 segundos!!! E você, telespectador, não se esqueça de adquirir agora mesmo seu kit de leitura dinâmica por módicas 30 parcelas de...

Enfim... Então o Carlos ia lá, pulava da primeira para a última página do livro e dizia "Terminei!", com aquela injustificável feição de superioridade. Eu até admito que essas técnicas de leitura dinâmica fazem sentido, mas certas propagandas tiram a credibilidade do produto.

Só para terminar, pois você não aguentam mais ler, tem um produto que vocês certamente se lembram: Seven Days Diet, com Emerson Fittipaldi! Foi só para lembrar mesmo, porque se o Emerson Fittipaldi garantia, certamente era de qualidade.

Se se lembrarem de algum produto que me esqueci (e certamente são muitos), postem nos comentários, por favor.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Blogueiro: a peça-chave

Caros amigos blogueiros, eu não queria que esse post fosse uma puxação deliberada de saco, mas é o que parecerá, no final. Apenas parecerá, pois me comprometo a fazer uma profícua e isenta análise da realidade blogal.

A comunicação foi revolucionada pelos Blogs. Hoje qualquer um pode ser jornalista, expor sua opinião, contar verdades e mentiras, colocar acontecimentos em tempo real na rede e formar um mundo das idéias gratuito e instantâneo sem nenhuma censura ou aparente repressão.

Ultimamente tenho navegado por diversos tipos de Blogs e descoberto quantas idéias surgem neles. O Blog, em sua espontaneidade de informações, trata principalmente do nosso cotidiano. Poderíamos simplesmente ler o jornal do dia e copiar as informações. Mas não, atualizamos nossos Blogs geralmente com idéias.

Nossa missão é importante: numa mão carregamos um punhado de fatos; na outra carregamos um punhado de palavras. Colocamos tudo isso num Blog e formamos idéias.

Eu diria que o Blog é a panela, fatos e palavras são os ingredientes e o blogueiro... Bom, o blogueiro é a colher de pau! A missão da colher de pau é unir esses ingredientes e transformá-los em algo maior do que eram antes. Pois o todo precisa ser maior do que a soma das partes, se a mistura realmente funcionar. As idéias de um Blog, da mesma forma, valem muito mais do que simples palavras e fatos jogados ao vento.

Por isso, creio que somos agentes da mudança blogal. Lançamos nossas idéias sobre os mais simples fatos, utilizando palavras, imagens e toda a sorte de recursos audiovisuais, com o intuito de passar isso a você, leitor. Pois, de que valeria nosso parco conhecimento, se com ninguém pudéssemos compartilhá-lo?

Intervalo nas atividades

Bom pessoal, o próximo post será o último desse ano. Mas acalmem-se, o ano está chegando ao fim mesmo! Eu sei que falar "Nossa, é a última coisa do ano" parece impactante. Mas isso é só uma impressão. Se eu for no banheiro às 23 horas do dia 31 de dezembro, poderei dizer "Bom, essa é a última cagada do ano". Seria impactante, olharia com saudades do último cocô de 2007, mas estaria a reduzidos 60 minutos de 2008.

Portanto, desfrutem do próximo post e dos passados e até a volta, em breve, em 2008!

Um abraço e obrigado a todos que têm passado por aqui. E aos que não têm passado também! =)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O homem dissocial

O homem é taxado como um animal essencialmente social. Isso faz, teoricamente, com que essa espécie tenda a procurar a atenção alheia a todo o momento para satisfazer suas egocêntricas necessidades. A ponte entre a necessidade de se sociabilizar e a sociabilização foi comumente chamada de "comunicação".

A comunicação pode se dar de várias formas. Desde os mais tenros tempos da humanidade até os mais contemporâneos o homem tem desenvolvidos diferentes e, aparentemente, mais eficazes formas de comunicação. Se nos primeiros anos utilizávamos gestos incompreensíveis, sinais de fumaça, desenhos arcaicos, grunhidos grotescos e, claro, o acasalamento, atualmente escrevemos, falamos e, às vezes, piscamos.

No entanto, uma observação da realidade que me cerca mostrou que essas novas e eficientes formas de comunicação não têm ganhado adeptos em todo mundo. Algumas pessoas insistem em manter seus costumes rústicos e antiquados.

Certa vez fui comer no Habib's. Acompanhado de uma amiga, aproveitei a oportunidade para batermos um papo descontraído e desenvolvermos um diálogo faceiro. Pois é, papo vai, papo vem e o tempo passa. De repente, as luzes se apagam. E acendem! E voltam a se apagar... Mas se acendem de novo! Ainda perplexos, fomos supreendidos por um dos atendentes vindo dizer: "Está na hora de fechar o restaurante". Pô, se era para ter que vir avisar de qualquer jeito, porque utilizou a apanacada forma de comunicação descrita?

A princípio, pensei em questionar o fato dele ter chamado aquele cubículo minúsculo e engordurado de restaurante. Eu chamaria, com boa vontade, de "barraquinha". No entanto, me contive e disse um mero "Passar bem".

Ok, até admito que apagar e acender as luzes repetidamente é uma prática há muito disseminada no cotidiano brasileiro. Quando sua mamãe namorava seu papai, sua vovó apagava e acendia as luzes da varanda para avisar que era hora de terminar com aquela pouca vergonha na calçada e entrar para dentro de casa, onde o selo da castidade estaria bem guardado. No entanto, não tínhamos ciência de que redes de fast food também adotavam tal prática.

Até esse momento, eu pensava que as empresas estavam comprometidas com o desenvolvimento de relações mais claras e transparentes. Contudo, percebo cada vez mais que é intrínseco ao ser humano a rara arte de complicar. Quem nunca foi ao shopping ou supermercado e foi surpreendido com uma máquina estúpida que cospe um cartão de estacionamento e fala "Seja bem-vindo à puta-que-pariu"? Falar "Bom dia" a um projeto de robô é, no mínimo, constrangedor. Geralmente eu vejo o crachá do carinha que está entregando os cartões e falo "E aí Reginaldo, beleza?". Ele fica até feliz!

Mas o que impressiona mesmo é que em 99% das vezes essas máquinas ficam sendo monitoradas por um funcionário que pega os cartões. Ora, para quê serve a máquina, então? E de quebra, não dá nem para ver o cracha do funcionário! Essas coisas que me revoltam...

O que concluo de tudo isso é que o ser humano, diante das tantas formas de comunicação já desenvolvidas, tem escolhido aquelas que envolvem o menor contato humano, não as de fato mais eficientes. Seja arcaico, como no caso de acender e apagar as luzes, ou moderno, como no caso das máquinas de estacionamento, nossa evolução (eu chamaria de involução) tem dado tristes mostras de que o homem está cada vez menos social.